TOM R. NO CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

Quando fui pra Espanha eu tinha dois objetivos: reconquistar minha ex-mulher que lá estava morando e fazer o caminho de Santiago com ela. O primeiro objetivo não deu certo e por isso o segundo quase também fracassou. Eu não queria fazer o caminho de Santiago sozinho. Aliás, eu não queria ir com qualquer pessoa, mas queria ir com minha ex. E como isso se tornou impossível, pensei em desistir da caminhada. Mas esse era um objetivo que travei lá atrás, quando ainda não tinha dinheiro pra sequer comprar a passagem de ida. Eu devia isso a mim mesmo, eu devia isso a minha parte do passado que cimentou a plataforma onde hoje eu desfilo. E fui. E no percurso muitas vezes pensei em como era irônico lutar pra obter conforto e depois de conseguir, se embrenhar numa viagem de 860 km a pé e dormindo em albergues (algumas vezes dormindo no chão por falta de leito). Tive muitos problemas e no meio da viagem pensei em desistir. Bolhas no pé, dores de cabeça e de estômago... por mais otimista que eu possa ser, ali eu fui realmente testado. Eu não fui atrás de iluminação, pois isso eu consigo lendo alguns livros de auto-ajuda como “O Segredo” e outros no mesmo gênero. Engana-se quem pensa que vai fazer esse caminho sagrado e voltar pra sempre iluminado. A iluminação é algo que vem e vai. Você precisa viver buscando-a. Afinal, vivemos num mundo de contrastes e não dá pra ser sábio o tempo todo assim como não dá pra ser feliz o tempo todo. Se alguém diz que sim, não lhe dê ouvidos. Fiz a viagem, como já disse, não por busca de iluminação, mas por questão de dívida, dívida comigo mesmo. Conheci um grupo de russos que fazia o caminho juntos e nesse grupo havia uma garota pouco mais nova que eu e que falava um português quase perfeito que aprendeu nos dez anos que trabalhou no parque do Beto Carrero em Santa Catarina. Pensei que ela apenas tinha simpatizado comigo mas percebi que era mais do que apenas simpatia quando tive que ficar de cama numa casa em Burgos por problemas de estômago e ela abandonou o grupo pra ficar comigo. É incrível como essas coisas acontecem. Rejeitado pela ex-esposa, eu encontro no caminho de Santiago uma russa que fala português e que se sente atraída por mim. Enfim... ela e seu grupo, ao final do caminho, me convenceram a partir para uma temporada na Rússia. E lá fui eu, com economias apenas para uns dias e os negócios me esperando no Brasil. Resolvi dar uma de louco e inconseqüente e aceitei o convite. Eu, que parti do Brasil em setembro com previsão de retorno para outubro, só voltei para casa no começo de janeiro, 4 meses depois.
Sobre o caminho, não tenho muito o que dizer... tem catedrais lindíssimas e antigas, mosteiros que se tornaram albergues, paisagens maravilhosas, mas o caminho é difícil... chão de terra, pedras, subidas... dá vontade de desistir... mas se você insiste, pode ser que encontre algo interessante... como eu encontrei... Assim é no Caminho de Santiago... Assim é na Vida!
Tom R.

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